A vida contemporânea abre possibilidades para o ensino, a divulgação e a disseminação do conhecimento que, até relativamente pouco tempo atrás, ou desconhecíamos ou pouco utilizávamos no cotidiano. A pandemia teve um papel de catalisadora das inúmeras formas de interação e comunicação entre pessoas, grupos e instituições, pois o mundo virtual passou a ocupar um espaço significativo em nossas vidas.
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Recentemente, tivemos a oportunidade de ouvir uma colega oncologista de Jaú, estado de São Paulo, em um encontro ocorrido na UFN, voltado para alunos de graduação em Medicina. Ela fez uma explanação sobre a comunicação com pacientes oncológicos.
A Prof.ª Dra. Ana Lucia Coradazzi é especialista em Oncologia e Cuidados Paliativos – uma combinação bastante especial, na medida em que lhe permite um olhar amplo sobre a doença oncológica: até onde seguir com tratamentos específicos, quando amenizar, quando parar e quando reconhecer que o final da vida se aproxima. Nesse momento, o foco se volta para o conforto e o alívio dos sintomas que comprometem a qualidade de vida do paciente – ou seja, para os cuidados paliativos.
Os cuidados paliativos
Eis uma expressão que necessita nossa atenção, pois ainda há muitas confusões, inverdades e crenças equivocadas que impedem que a Medicina Paliativa esteja no centro da discussão médica. É essencial que esses conceitos passem a fazer parte da prática médica, que a equipe multidisciplinar esteja familiarizada com sua filosofia de trabalho e que a população compreenda melhor expressões como ortotanásia, distanásia, mistanásia e eutanásia. Em termos simples, trata-se de sacralizar novamente a morte – fenômeno tão natural quanto o nascimento. A ideia é proporcionar conforto, dignidade, suporte familiar, qualidade de vida, apoio à família e suporte espiritual. Está mais do que na hora de deixarmos de transformar a morte em um sofrimento indizível para o paciente e seus entes queridos.
Existe previsibilidade. Há possibilidade de decisões antecipadas. À medida que a situação clínica do paciente se deteriora, conversas tornam-se essenciais – e devem ser profundas, cautelosas e empáticas.
A Dra. Ana Lucia possui outro dom, além de cuidar de forma extremamente humana de seus pacientes oncológicos – situações médicas de grande complexidade. Ela também é escritora, com vários livros publicados. É coautora, junto com o clínico André Islabão, do livro Slow Medicine: Sem Pressa para Cuidar Bem.
Ela falou sobre empatia, palavra hoje quase banalizada. O melhor conceito que encontrei foi o que a inteligência artificial me ofereceu:
“Empatia é a capacidade de compreender e partilhar os sentimentos de outra pessoa, como se estivesse na mesma situação. É a habilidade de se colocar no lugar do outro e tentar entender sua perspectiva, emoções e motivações. A empatia não se limita a sentir pena ou simpatia, mas sim a uma compreensão profunda e genuína do estado emocional alheio, o que pode levar a ações altruístas e à construção de relações mais fortes.”
Empatia cultivada
Pode-se dizer que a comunicação entre médicos e pacientes baseia-se, essencialmente, na empatia. E a empatia, ainda que talvez inata, pode ser cultivada e desenvolvida ao longo do tempo. Profissionais de saúde devem compreender esse processo, praticá-lo e incorporá-lo como uma ferramenta permanente, trabalhada e elaborada, que lhes permita olhar de forma mais compassiva para a pessoa que busca ajuda.
Tanto nos cuidados paliativos quanto na Geriatria, a comunicação também deve ser aprendida. O distanciamento dos pacientes, expressões fechadas, desatenção e o uso excessivo de vocabulário técnico apenas os afastam. A comunicação se torna truncada, gerando mal-entendidos, falta de compreensão e, possivelmente, menor adesão terapêutica, abandono de tratamento e até erros que podem comprometer uma abordagem técnica impecável.
Na Geriatria, como muitos pacientes apresentam dificuldades de comunicação devido a alterações cognitivas, a família costuma se tornar o principal interlocutor. Cuidados devem ser tomados para que o paciente não seja colocado em um papel secundário durante a consulta, permanecendo em silêncio, quase esquecido, enquanto o diálogo se desenvolve exclusivamente entre o profissional de saúde e os familiares.
Em suma, os médicos ainda têm muito a aprender sobre comunicação. Quando atingirmos uma comunicação eficaz, empática e terapêutica, estaremos mais próximos de um padrão de excelência assistencial.